Os 7 diferentes objetivos de uma consulta médica

Uma consulta médica nada mais é que o encontro entre o médico e seu paciente. E, mesmo utilizando um viés biomédico, somos ensinados durante todos os momentos de formação médica a entender o paciente. Estudamos, sinais e sintomas das doenças, como eles podem se manifestar, estudamos psicologia médica, etc.
Uma médica está conversando com uma paciente.

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Consulta médica

Quando você realiza uma consulta médica, qual é o seu principal objetivo?

A resposta mais provável é que você diga: “O principal objetivo é deixar o paciente saudável.” Tudo bem, essa é a resposta óbvia e genérica. Entretanto, não é tão simples assim na prática médica. Dependendo do ambiente de trabalho, da satisfação com sua profissão, do seu momento de vida, o objetivo principal pode ser outro.

Mas por que falar sobre o objetivo da consulta médica?

Uma consulta médica nada mais é que o encontro entre o médico e seu paciente. E, mesmo utilizando um viés biomédico, somos ensinados durante todos os momentos de formação médica a entender o paciente. Estudamos, sinais e sintomas das doenças, como eles podem se manifestar, estudamos psicologia médica, etc.

Porém, estudamos e sabemos muito pouco sobre nós mesmos. E, saber sobre nós mesmos, é em minha opinião, tão importante quanto saber do paciente. Inclusive, é anterior. É impossível conhecer a fundo o outro, sem sabermos de verdade quem nós somos.

E antes de começar a nos entender, é de fundamental importância saber o que queremos em uma consulta médica. Pois, essa motivação será determinante no tipo de atendimento oferecido às pessoas.

Vou tentar neste artigo descrever os 7 principais motivos de uma consulta médica, e, mesmo que alguns deles possam ser extremamente negativos e raros, eles existem.

Dentre os 7 objetivos, o último é o objetivo o qual eu defendo e o qual todos os artigos desse blog sobre o tema de comunicação clínica irão partir como pressuposto. Vamos ver quais são?

Os 7 diferentes objetivos de uma consulta médica

Conseguir fazer uma intervenção médica

Infelizmente, movidos pela lógica do pagamento por procedimento, alguns poucos médicos tem como objetivo principal induzir o paciente, muitas vezes sem necessidade, a realizar um procedimento.

Um procedimento que muitas vezes pode causar riscos ao paciente pelo próprio procedimento, ou fazer uma achado sem significado clínico, mas que pode gerar ansiedade no paciente.

Exemplo, um médico gastroenterologista que possua um colonoscópio, e tende a induzir os pacientes a realizar exames com uma idade abaixo da média, de acordo com fatores de risco individuais, ou com uma frequência acima da média. Faz isso motivado pela questão financeira.

Sei que esse é o objetivo de pouquíssimos médicos, que colocam a questão financeira acima das necessidades dos pacientes. Porém, é hipocrisia negar que esse objetivo exista.

  • Assustar para fidelizar

Outro objetivo de raríssimos médicos. Outra vez motivados pela forma de remuneração por procedimentos. Os poucos médicos que trabalham motivados por esse objetivo, geralmente utilizam do medo para garantir o retorno mais frequente que o necessário para as consultas médicas.

Por exemplo, um médico urologista que faz um diagnóstico de litíase urinária em um paciente jovem e hígido, e solicita o retorno a cada 6 meses para consulta e nova ultrassonografia.

Nesse caso, o objetivo talvez cause menos dano ao paciente que no primeiro exemplo. No entanto, prejudica o paciente da mesma forma.

  • Atender o mais rápido possível

O último dos objetivos negativos. Mais uma vez com a mesma motivação de remuneração.

Vamos imaginar o seguinte cenário. Um médico é convidado a atender em um pronto-atendimento ambulatorial, em um plantão de 12h. E a sua remuneração médica será proporcional ao número de atendimentos. Ou seja, quanto mais atender, mais irá receber.

Esse estímulo pode deturpar os objetivos do médico, e fazer com que ele consulte o mais rápido possível, para esvaziar a fila e receber mais. Eu já presenciei um médico atender mais de 150 pacientes em um único dia. O que daria menos de 5 minutos por paciente, sem considerar nenhum descanso do médico, ou qualquer outro contratempo.

Mesmo considerando o ambiente de um pronto-atendimento. A pressa em atender o maior número possível de pessoas, certamente trará danos aos pacientes.

  • Resolver o problema do paciente

Esse objetivo de cara parece ser muito positivo. Porém, ele pode conter uma armadilha. Pois, entender qual é o realmente o problema do paciente pode não ser uma tarefa tão fácil assim. E, dependendo da concepção de saúde-doença do médico (saiba mais nesse artigo), o problema do paciente pode ser diferente do problema que o médico ache que o paciente tem.

Além da concepção saúde-doença, o médico pode dar atenção apenas ao diagnóstico, e não às expectativas e à experiência de doença da pessoa.

Sem falar, que nosso papel muitas vezes não é de simplesmente resolver os problemas. Adotar esse objetivo, também pode exacerbar o papel paternalista de consultar.

  • Realizar uma mudança do estilo de vida

Alguns médicos, motivados pela concepção de que as pessoas ficam doentes principalmente pelo estilo de vida que levam, passam a perseguir como objetivo de consulta a mudança do estilo de vida.

Mudar o estilo de vida de uma pessoa para que ela seja mais saudável, não requer alta densidade tecnológica, mas requer alta complexidade! Para mudar um estilo de vida é necessário entender motivações, história de vida, necessidades… E, depois de entender tudo isso, algo bastante complexo, será preciso intervir de forma adequada.

E, além disso tudo, o principal. Entender se o paciente está querendo mudar, e ainda, se estiver querendo, qual será o melhor momento para fazer isso.

Portanto, apoiar a mudança de estilo de vida é algo muito importante, e tarefa de qualquer médico. Porém, como objetivo principal de toda consulta, pode não estar de acordo com o momento do paciente, e pode inclusive quebrar o vínculo.

  • Satisfazer o paciente

Claro que como prestadores de serviços, a satisfação do paciente é de fundamental importância. Porém, temos um viés importante nesse objetivo. Nem sempre o que o paciente deseja, seja algo positivo para sua própria saúde.

Por exemplo, a realização de um exame ou procedimento desnecessário, ou ainda, a prescrição de um medicamento que pode causar dependência ou efeitos colaterais importantes.

Mais importante que satisfazer os pacientes em suas necessidades, é entender as preocupações e incômodos que existem por trás dessas necessidades.

Tentar satisfazer os pacientes, sem entender o contexto, pode causar mais danos que benefícios a sua saúde.

  • Oferecer cuidado

Oferecer cuidado significa demonstrar um interesse genuíno pelo paciente. E, ao demonstrarmos um interesse genuíno, nos colocamos em uma posição de respeito, de acolhimento ao sofrimento.

Oferecer cuidado é uma postura, que exige do médico, compreensão do paciente, do seu problema e das suas expectativas. O planejamento das ações terapêuticas são compartilhadas entre médico e paciente, e o momento certo de cada intervenção é mais adequado.

Quando temos a postura de oferecer algo, não exigimos que as coisas devem ser do nosso jeito, segundo nossos conselhos. Isso, sem é claro, deixar que o paciente seja prejudicado. Temos que ser mais enfáticos em algumas sugestões, principalmente quando algo pode oferecer muito perigo ao paciente. No entanto, por mais enfático que possamos ser, o respeito pela autonomia do paciente é soberano.

Em suma, oferecer cuidado exige interesse genuíno, disponibilidade e respeito à autonomia.

Conclusão

Você já havia parado para pensar no seu objetivo em uma consulta? Será que o tempo e o ambiente de trabalho estão influenciando no seu objetivo? Você acha que existe algum outro objetivo além desses 7? Deixe seu comentário abaixo, será muito bacana poder discutir essas questões com você.

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Até o próximo artigo!

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Artigo por

Heitor Tognoli
Médico empreendedor e fundador da Communicare, um software completo para clínicas e consultórios. A Communicare nasceu do casamento entre a paixão pelo cuidado de excelência e pela praticidade que a tecnologia nos oferece. Hoje, ajudamos médicos e demais profissionais de saúde, que atuam em clínicas e consultórios, a revolucionarem a gestão e o cuidado em suas clínicas.
Tabela de conteúdo
Em 1968, o diretor clínico do Cleveland Metropolitan General Hospital, Lawrence L Weed*, preocupado com a complicação dos registros clínicos, e o impacto negativo causado na gestão do cuidado dos pacientes, publicou um artigo na New England Journal of Medicine, intitulado “Medical Records that Guide and Teach” (Registros Clínicos que guiam e ensinam).
Essa experiência precisa ser encantadora, para que se inicie o processo de fidelização dos pacientes aos seus serviços. É por esse motivo que todos os profissionais de saúde ou gestores de clínicas e consultórios precisam ter um cuidado especial com a recepção.
Empatia (s.f.): Não é sentir pelo outro, mas sentir com o outro. Quando a gente lê o roteiro de outra vida. É ser ator em outro palco. É compreender. É não dizer “eu sei como você se sente”. É quando a gente não diminui a dor do outro. É descer até ao fundo do poço e fazer companhia pra quem precisa. Não é ser herói, é ser amigo. É saber abraçar a alma.